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DIA DO MOTORISTA: O volante como paixão e profissão


“Sou um iluminado, pois me preparo e consigo estar bem psicologicamente para dar amparo, mas quando não mais é possível, consigo filtrar e seguir em frente, pois logo a seguir existirão outros na mesma situação”


Essa frase pertence não só a um motorista da Secretaria Municipal de Saúde de Piratini que roda em média roda dez mil quilômetros por mês transportando pacientes com doenças graves, mas também é de alguém que ao volante conheceu de perto o maior risco que um condutor pode enfrentar ao trafegar diariamente pelas estradas do país: o acidente de trânsito.


Em 2010, Roberto Garcia, o Carreirinha, 39 anos, motorista concursado há dez anos pela Prefeitura Municipal, chocou a Kombi que dirigia contra um caminhão. O resultado foi a perda da perna esquerda. Ao recuperar-se e, enquanto aguardava a prótese, a vontade de guiar novamente suprimiu possíveis medos e traumas deixados pela colisão e pela sequela, aí uma leve transgressão é recordada com bom humor: “Logo que deixei o hospital passei a usar a muleta para empurrar o pedal da embreagem do meu carro, e isso me ajudou a começar a ganhar novamente a autonomia”, relembra.


Decidido a não se aposentar por invalidez, ou quem sabe exercer uma função burocrática devido à lesão, Carreirinha teve ao seu lado a obstinação do secretário da pasta de saúde, Diego Espíndola, que decidiu adquirir um veículo adaptado. E lá se vão quase oito anos levando e trazendo enfermos para Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande.


“Foi acertada a decisão, não me arrependo em nenhum momento disso, pois é um servidor público que fez por merecer toda a nossa mobilização e confiança, não somente dos gestores, mas inclusive a da comunidade que elogia seu trabalho, o que acontece porque nessa função ter tranquilidade e calma não é para todos, então é a missão de vida dele de ser motorista da saúde, que é algo bem complexo”, avalia o chefe que inclusive confia sua segurança a Carreirinha e exemplifica isso contando um fato: “Nas viagens longas ele é um dos dois que me transportam. Lembro de uma vez em que viajávamos com outro secretário de saúde, e este perguntou: como tu tens coragem de viajar com um motorista amputado? Respondi: se juntarmos nossas pernas, as minhas e as suas secretário, não vamos reunir a experiência que o Carreirinha tem em uma só perna”.


Na profissão que escolheu para a vida e na área em que trabalha, Roberto Garcia sabe que ser sensível e solidário é algo imprescindível para seu cotidiano.


“Impossível não se envolver emocionalmente. Convivo com os dois lados: a alegria e a frustração, pois ao mesmo tempo em que transporto pessoas que, com câncer, por exemplo, vão semanalmente à busca da cura e a conseguem em determinado ponto do tratamento. Em proporção bem maior, infelizmente, me deparo com aquelas que saem do consultório sem qualquer esperança de sobrevida, e quando estas param de viajar comigo por partirem, eu que construí uma amizade e tinha uma afinidade com estas realmente sinto” sintetiza.


Mas o motorista gosta e se satisfaz mesmo quando a viagem de retorno para casa é recheada de sorrisos e esperança por parte daqueles transportados que já alcançam o objetivo, a cura, e passam a se deslocam com ele somente para revisões. Ao contrário de quando as noticias não são boas e o trajeto muitas vezes é em silencio, a alegria e o bom astral dos pacientes o deixam satisfeito e lhe dão novamente a certeza de que estar atrás de um volante é realmente a profissão que sonhou para si.


“Que bom que também compartilho e vivencio estes momentos. Elas, as pessoas, voltam com o sorriso no rosto, tem uma força de vontade, fé e superação que são admiráveis, e quando não tiverem e o resultado não for bom, o que tenho para dar é carinho e uma palavra de conforto”, conclui.

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