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Primo de Paulo Pimenta acusa o deputado de operar esquema de fraude na fronteira do RS


O primo do deputado federal Paulo Pimenta (PT) acusou o parlamentar de operar um esquema de fraude na fronteira do Rio Grande do Sul. Em entrevista à RBS TV, o médico veterinário Antônio Mário Pimenta, o Maíco, diz que o deputado era operador de um sistema que lesou produtores rurais da cidade de São Borja em pelo menos R$ 12 milhões.


Arrozeiros do município alegam ter sofrido o golpe após vender a produção para uma arrozeira. Entregaram os cereais, mas não receberam o pagamento. O agropecuarista Odon Motta dos Santos foi atrás do administrador da empresa, o veterinário Antônio Mário Pimenta e ouviu que o verdadeiro dono era o primo de Maíco, o deputado federal Paulo Pimenta, líder do PT na Câmara.

"Eu vasculhei Rio Grande, vasculhei Porto Alegre, vasculhei tudo que é parte que eu podia. Pedi ajuda, e o arroz não apareceu, simplesmente sumiu. Se eu não vendi e sumiu isso, é puro mérito do roubo", diz o agropecuarista.


"Eu sou de uma leva de uns seis ou mais que perdemos de 7 a 10 mil sacos de arroz. E teve dois ou três que levaram prejuízo de 90 mil sacos, outro de 150 mil sacos", afirma um dos agropecuaristas afetados, que preferiu não se identificar.


Pimenta é investigado por estelionato no Supremo Tribunal Federal desde 2012. Parecer da Procuradoria Geral da República afirma existir "indícios que apontam para o deputado federal como o verdadeiro proprietário da arrozeira, ou, ao menos, como quem mantenha com a citada empresa algum grau de vinculação que o faça também responsável pelas fraudes noticiadas".


Localizado pela RBS TV na cidade de São Francisco de Assis, Maíco admitiu ligações do primo com a empresa. Disse ter assumido a arrozeira ao ser convencido pelo deputado de que seria um bom negócio, já que a empresa recém teria realizado uma negociação de arroz avaliada em R$ 8 milhões, o que demonstraria um boa situação financeira do negócio.


"De fato, era um negócio fantástico, um negócio de 200 mil sacos de arroz, pegando uma empresa capitalizada. É praticamente um ano inteiro sem ter que comprar arroz", afirma Maíco.


O primo diz que o parlamentar seria o "operador" de um esquema do qual também fariam parte um advogado e lobista de Brasília e o ex-diretor de Infraestrutura do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Hideraldo Caron, afilhado político de Pimenta, que deixou o governo Dilma em 2011 por suspeitas de corrupção. Maíco diz que participou de uma reunião com ambos.


Maíco: "Foi explicado (na reunião) como seria a operação da empresa, que o negócio era bom, estava andando. Até eu acreditei".

Repórter: "Isso levava o senhor a crer que o dono do dinheiro era Caron?"

Maíco: "É, porque prestava conta para ele".


No entanto, o negócio supostamente lucrativo virou frustração. O primo do deputado descobriu que a carga de R$ 8 milhões de arroz não existia. E, ao checar a autenticidade de laudos usados para atestar a quantidade e qualidade do cereal, descobriu que os papéis eram falsos. Alertada por Maíco, a empresa certificadora, a Clacereais, com sede em Pelotas, denunciou o caso à Polícia Federal em 2009.


"Vimos que os documentos não eram legítimos e que tinha sido furtado documento interno da empresa, com falsificação dos resultados que até não condizem que as especificações técnicas do produto em questão", afirma o dono da Clacereais, Edemundo Rodrigues Garcia.


O inquérito ainda não esclareceu o que estaria por trás da negociação do arroz, se o dinheiro de fato, existiu, e qual a origem. Depois da entrevista à reportagem, o primo do deputado Paulo Pimenta prestou depoimento à Polícia Federal. O relato deve ser encaminhado ao Supremo, para ser anexado ao inquérito no qual o parlamentar já teve o sigilo bancário quebrado. Decisão do STF publicada no mês passado impôs uma dupla derrota ao deputado: além de negar o arquivamento da investigação, os ministros decidiram remeter o processo à Justiça Federal de Uruguaiana, contrariando pedido de sua defesa.


Remessas de dinheiro a posto de gasolina


Apesar das dificuldades em tocar o negócio, Maíco diz que, algumas vezes, a arrozeira chegou a dar lucro. E que fez transferências bancárias e depósitos em dinheiro na conta de um posto de gasolina que pertence ao deputado, que fica na Zona Norte de Porto Alegre. Avaliado em R$ 485 mil, a empresa aparece na relação de bens de Paulo Pimenta, declarada à Justiça Eleitoral. Em 2014, fez doação de R$ 15 mil para a campanha do petista.


"Ele [deputado] pediu para fazer umas remessas, não sei se ligada a ele, para um posto de gasolina em Porto Alegre. Umas três ou quatro remessas, talvez mais, faz muito tempo, no valor de R$ 30 mil, R$ 40 mil, na época", recorda Maíco.


Ele conta que as remessas eram feitas de forma fracionada, sempre em pequenas quantias, por orientação do deputado. O veterinário diz que não teve intenção de enganar os produtores. Ele admite, no entanto, que houve má gestão e que as operações da empresa se transformaram em uma espécie de "pirâmide", na qual novas transações eram feitas para cobrir rombos anteriores.


"Quando tu estás no negócio, tu não estás pensando, tu não faz de sã consciência, tentando dar golpe. Caso contrário, nem estava aqui, tentando reverter o prejuízo", afirma.

Maíco diz que foi orientado pelo primo a deixar a cidade de São Borja após o calote. Mas decidiu permanecer no município. Mudou-se apenas há poucos meses, para cuidar das terras da família em São Francisco de Assis.


"Só do meu próprio bolso já perdi pra mais de R$ 300 mil, R$ 400 mil entre [ações] trabalhistas e coisa que foram pagas. Eu paguei [algumas dívidas] vendendo gado, eu sou produtor, minha origem é dentro de uma cooperativa, eu sou veterinário de formação, eu sei onde é que arde", afirma.


O deputado Paulo Pimenta negou todas as acusações. "Esse assunto não me diz respeito, não existe nada no processo que me vincule a essas denúncias, essa investigação tem mais de 10 anos. Nós temos certeza da nossa absoluta inocência nesse processo, da manipulação que está sendo feita envolvendo o meu nome e o nome de outras pessoas. E ninguém mais do que eu quer que esse processo seja concluído o mais rapidamente possível", afirma.


A reportagem tentou entrar em contato com o Hideraldo Caron, mas não o encontrou.





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